Exército: abolição das comemorações do golpe de 64

Comemorar um golpe de Estado sempre transpareceu um ato incongruente

O Exército acaba de retirar do seu calendário oficial a comemoração do golpe militar de 31 de março de 1964. O simbolismo do gesto merece mais do que uma nota de pé de página nos jornais; é indicatico da superação simbólica de uma época de divisões e equívocos políticos e do reconhecimento inconteste da consolidação do Estado Democrático de Direito.
Até novembro de 2010, a comemoração ainda constava do portal do Exército na internet. De acordo com a instituição armada, as datas comemorativas constantes do novo portal são o Dia da Pátria (7/9), o Dia da Vitória (8/5), o Dia do Reservista (16/12) e o Dia da Bandeira (19/11). Comemoram-se também as datas magnas das três Forças Armadas e as datas de Armas, Quadros e Serviços do Exército.
A iniciativa contribui para aprofundar a distensão democrática, eliminando fricções realimentadoras de traumas que a Nação tem interesse em superar, sem negar a memória e a verdade histórica.
Comemorar um golpe de Estado contra o ordenamento jurídico democrático sempre transpareceu um ato incongruente, depois que o Estado Democrático de Direito foi restaurado. Prevalecesse essa lógica, o Brasil redemocratizado em 1946 teria continuado a celebrar o golpe de 10/11/37, data imposta pela ditadura do Estado Novo. Um absurdo.
As razões alegadas pelos apoiadores das ditaduras de 1937-1945 e de 1964-1985 para justificar o culto nunca foram acolhidas pela maioria da consciência democrática nacional e sempre foi uma incongruência mantê-lo, ainda que nos quartéis, por alimentarem visão atentatória à constitucionalidade democrática.
É preciso ter presente que esses equívocos históricos foram resultantes de ações de facções ideológicas que, momentaneamente, dominaram as instituições armadas, em momentos de grandes embates políticos, refletindo as correntes existentes dentro da sociedade. Sempre existiram militares liberais, socialistas, nacionalistas, comunistas, como é natural nas sociedades democráticas. O equívoco foi quando uma facção deu um golpe de Estado e procurou impor sua própria visão como sendo a da instituição armada. Desse equívoco, finalmente, estamos começando a nos livrar.






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